2008 em revista #3 (economia)
2008 foi um excelente ano para a nossa economia! Com "nossa" refiro-me aos autores deste blog. Ao contrário de meio mundo, que enterrou dinheiro em fundos de investimento imobiliário americanos, nós preferimos investir num pequeno grupo de piratas da Somália. Enquanto aqueles fundos desciam, o retorno do nosso investimento disparava. Pelo preço de uma lancha usada e meia dúzia de Kalashnikov compradas a um simpático senhor russo que trabalha nas obras de um prédio em frente à nossa sede, embolsámos largos milhões de dólares. O mais difícil foi retirar o super-petroleiro Sirius Star para o Mondego, mas ninguém deu por ele escondido atrás do Basófias.
Para muitos, porém, 2008 foi o embruxado ano da "crise", conceito algo indeterminado, que parece centrar-se no misterioso desaparecimento do dinheiro de locais onde tradicionalmente parecia existir em abundância. A crise, segundo alguns especialistas que tentam obter honorários aos prejudicados por ela, deve-se à especulação. Por sua vez, especulação significa que muitas pessoas, não tendo noção perfeita do verdadeiro valor das coisas, acabaram por dar por elas bem mais do que valem, até alguém perceber que valem, de facto, muito menos. A economia mundial funcionou, pois, como o programa O Preço Certo em Euros, tendo, no fundo, faltado aos grandes investidores mundiais as preciosas dicas de Fernando Mendes. A especulação nos mercados internacionais chegou a níveis que, segundo reputados economistas ouvidos pelo Incontinental, equivalem a apostar, n'O Preço Certo em Euros, que uma máquina de tirar borbotos a camisolas de lã (com duas pilhas AAA não incluídas) vale 100.000 euros.
Outro fenómeno curioso gerado pela crise dos mercados financeiros foi a espantosa queda de verdadeiros mitos do sistema. Alan Greenspan, por exemplo, passou, em poucos dias, de "Micahel Phelps do capitalismo" a "velho senil que vai dar milho aos pombos e passa o dia a falar com eles do capitalismo", sendo nessa altura o título de "Michael Phelps do capitalismo" entregue a Michael Phelps.
Porém, a crise gerou inesperados proveitos ao Governo. Baseado num estudo aprofundado das perspectivas de evolução da nossa economia, José Sócrates tentou anunciar que, em 2010, ou o mais tardar em 2011, os portugueses teriam que andar de eléctrico (o transporte público), por não terem dinheiro para comprar carros, mas a péssima redacção do comunicado fê-lo publicitar que Portugal seria pioneiro na comercialização de carros eléctricos, o que entusiasmou muito o país, apesar de fazer mais sentido a primeira explicação. Estas e outras histórias serão contadas num livro de Medina Carreira intitulado "Portugal não tem dinheiro para mandar cantar um cego", ao qual o Governo pretende reagir de imediato patrocinando a criação do "Grupo Coral da ACAPO", para descridibilizar a obra.
Também de assinalar, no plano interno, foi o caso BPN. Neste banco, Oliveira Costa era o equivalente a Oliveira Casca no Tal Canal. Homem magro e misterioso, teve a infelicidade de ver a sua prestação avaliada enquanto banqueiro, o que lhe trouxe o descrédito. Como entertainer, todavia, foi um homem brilhante. O seu número de fazer desaparecer dinheiro de Lisboa para, no mesmo instante, ele reaparecer na Cidade da Praia e, quando os espectadores já se confiavam que ficaria por aí, fazê-lo desaparecer novamente e ressurgir no seu próprio bolso ainda hoje deixa mágicos de todo o mundo de boca aberta. Numa versão deste show que apresentou, em privado, a investigadores do Banco de Portugal, conseguiu fazer tudo isto e ainda gastar o dinheiro, colhendo incessantes aplausos, sem que alguém conseguisse desvendar a ilusão.
Assim andou o mundo económico em 2008. Em 2009, prevejo que tudo vai melhorar. Afinal, toda Europa está a dever favores ao país responsável pela redução da taxa de juro...