28.12.08

2008 em revista #1 (política)

No Incontinental, não nos revemos nos entediantes resumos do ano que a comunicação social nos vai enfiando pela goela abaixo com um funil. Daí propormos, em alternativa a essa informação pré-fabricada e desinteressante, a verdadeira, objectiva, imparcial e relevante análise do ano que passou.

Na política, parece indiscutível que o ano fica marcado pelas eleições legislativas da Roménia, que decorreram no passado dia 30 de Novembro. Theodor Dumitru Stolojan, do Partidul Democrat Liberal, vencedor em coligação, foi designado primeiro-ministro em 11 de Dezembro, tendo inesperadamente resignado quatro dias depois, alegadamente por ter percebido que o país não conseguiria ter uma prestação digna no Festival Eurovisão da Canção de 2009. O actual primeiro-ministro Emil Boc não teme o insucesso e diz ter descoberto um talento romeno que poderá projectar o país aos astros do Festival, já lhe chamando "o novo José Cid".

O Partido Republicano, nos Estados Unidos, lançou John McCain não como objecto de estudo da Sociedade Americana de Geriatria, mas sim como candidato presidencial, erro que lhe havia de custar caro. Centrados sobre si mesmos, os americanos parecem não ter aprendido com o desastre do PSN (Partido da Solidariedade Nacional), que, tendo ficado conhecido como "Partido dos Velhinhos", tentava galvanizar uma população que tinha dificuldade em ouvir os seus anúncios, ler as letras pequenas da sua propaganda, e deslocar-se atempadamente aos locais de voto, tendo culminado a sua vida com uns emblemáticos sete votos nas legislativas de 2002, ainda assim à conta de alguma confusão que certos apoiantes faziam entre o seu líder, Manuel Sérgio, e o intelectual António Sérgio, por todos terem nascido no século XIX.

Na Áustria, há a lamentar, em 2008, o desaparecimento de Jörg Haider, nas circunstâncias em que ocorreu, pois acabou por estender o injusto mito de que as mulheres conduzem mal também aos homossexuais.

No plano interno, 2008 foi relativamente calmo. O Presidente da República e o Primeiro-Ministro começaram o ano com a amizade incondicional e ingénua que unia Heidi e Pedro, mas sem corridas pelas montanhas, e terminaram-no a apagar os respectivos números dos telemóveis. O líder do Governo conseguiu, porém, a proeza de ser reconhecido internacionalmente como uma das figuras mais bem vestidas, algo que traz ao país benefícios semelhantes aos que decorrem dos inúmeros recordes Guiness batidos com "o maior bolo-rei do mundo", "a maior fartura do mundo ainda a pingar óleo" ou "a maior Torta de Azeitão de Azeitão e por essa via também do mundo".

A oposição, por sua vez, demonstra um saudável desapego pelo poder, preferindo montar um espectáculo de variedades com a sua própria carnificina. Paulo Portas, sentindo-se vexado pela espantosa facilidade com que Manuel Monteiro consegue emagrecer de militantes a Nova Democracia, procura agora ultrapassá-lo, promovendo a saída de algumas figuras do CDS-PP, tendo o cuidado de explicar que saíram, para que não se repita o problema recente de os abandonos passarem despercebidos. O PSD, mal refeito da horrível doença que veio com Menezes, divertiu-se repartindo entre as suas hostes putativas o cada vez mais insignificante número de votos a que pode vir a aspirar. O Bloco esteve seguro no seu canto, mas com o crescimento limitado aos que, ao mesmo tempo, tenham a pretensão de assumir-se como intelectuais, se vistam como capitalistas, e apresentem a refinada superioridade dos moralistas. Já o PC poderia sonhar com algum ressurgimento, mas continua a sofrer os efeitos de Odete Santos ter dançado na RTP.

Foi este o jeitoso 2008 que nos calhou. Na política, 2009 será certamente melhor, pelo menos para um blog humorístico. Afinal, vem aí Laurinda Alves...