9.3.08

Spin City

O Incontinental sabe que a equipa de spin doctors do Governo prepara já uma versão dos acontecimentos de ontem, para chegar à comunicação social amanhã. Tivemos acesso a um rascunho do documento.

"Milhares de professores que, com os seus gordos rendimentos, possibilitados pelo Governo actual, poderiam ter passado o fim-de-semana em Bora-Bora ou ido às compras a Manhattan, preferiram juntar-se na maior manifestação de apreço de sempre à ministra da educação e, também, ao primeiro-ministro, em Lisboa.
Desde a manhã, várias centenas de autocarros cheios dirigiram-se a Lisboa, onde entraram com toda a facilidade, devido à excelente rede rodoviária que este Governo fez instalar, sem qualquer custo acrescido para os portugueses. Todos os docentes envergavam T-shirts alusivas à ministra, incluindo "Eu [coração] Marilu" e "Marilu, deixa-me ser como tu". No entanto, e para grande desconsolo de todos, não foi possível mostrá-las à comunicação social, devido ao frio que se fazia sentir e que se deve, em parte, ao governo (com "g" pequeno) da coligação PSD-PP.
Aquela que ficará conhecida como a "Grande Marcha da Felicitação" andou por Lisboa, à procura da ministra, mas esta, por exemplar modéstia, não se quis mostrar, salientando que apenas cumpre o seu dever ao trazer a felicidade ao país e espalhá-la pelas escolas.
Tudo seria melhor se os professores pudessem ter prestado homenagem, pessoalmente, à sua bem-amada governante, mas isso não impediu a festa. Durante o percurso, todos cantavam, com gosto, músicas de exaltação ao Estado, com particular incidência no Governo, e muitas mulheres mostravam, orgulhosas, as suas filhas pequenas, disfarçadas de ministra (com vestidinhos e cabelo iguais - claramente uma tendência da moda para as próximas oito estações), e estas faziam birra (tão queridas...) quando alguém insinuava que, um dia, o Governo poderia mudar.
Todavia, a parte mais inesperada do dia foi aquela em que, aproveitando a presença de tantos professores na capital, alguns ridículos sindicalistas tentaram - imagine-se! - convencê-los a fazer um protesto contra os seus governantes, ideia que foi mal recebida por todos. Os ditos sindicalistas foram detidos pelos próprios professores, furiosos com a iniciativa, e entregues, amarrados, ao primeiro-ministro, para que este, logo ali, lhes aplicasse o devido castigo.
Mas eis que, num momento que despertou lágrimas até em duas ou três pessoas que tinham perdido as glândulas lacrimais, este mesmo primeiro-ministro, num gesto profundamente nobre que a todos enterneceu, lhes perdoou, e com eles surgiu abraçado, beijando-os na face. Eles próprios sorriam, também, apesar de envergonhados pela sua imensa tolice.
No final, fez-se uma feijoada na ponte Vasco da Gama, onde professores, Governo e sindicalistas comeram e beberam com alegria, tendo-se batido a anterior marca do Guiness.
No final, o próprio primeiro-ministro lavou os pratos, recusando a ajuda de todos."