26.4.08

O Incontinental ajuda as mais altas figuras do Estado

O Incontinental responde ao apelo das mais altas figuras do Estado para que os jovens "deixem de ser cepos" e aprendam umas coisinhas sobre a revolução dos cravos. Esta é a nossa contribuição para a descepização dos mais novos.

Meus amigos,

tendes que aprender pelo menos o básico sobre o 25 de Abril.
O 25 de Abril de 1974 aconteceu no dia 25 de Dezembro de 1972. Tratando-se de um dia que já era feriado, houve muita discussão quanto à data que havia de ficar nos livros, para não se queimar a hipótese de passar mais um dia a tocar viola. Esta discussão prolongou-se por boa parte do ano de 1973. Lá para Setembro, decidiu-se marcar o feriado para 25 de Abril, o que só veio a acontecer no ano seguinte, precisamente 1974.
Conhecei agora as principais figuras de todos os acontecimentos.
Salazar interveio na revolução na qualidade de falecido, de longe a mais cómoda. Salazar foi, antes de bater a bota, o Presidente da "Junta de Freguesia de Portugal", que ocupava todo o país e ainda as colónias. O saudoso ditador preferia referir-se-lhe desta forma por conciliar o domínio de todo o território com uma parola vingança, já que nunca conseguiu ganhar a Junta do Vimieiro e jamais superou tal trauma.
A técnica para juntar muitos militares junto ao quartel do Carmo foi engenhosa e saiu da cabeça de Salgueiro Maia. Tudo girou à volta da chaimite, que é uma mistura entre um Hummer e uma Renault 4L, mas com motor de tractor. Ora, uma chaimite é coisa para gastar mais de 30 litros de gasóleo à espera que o semáforo abra. O sonho de todo o militar era andar de chaimite, mas sendo, já na altura, muito caro o gasóleo, poucos o tinham feito. Salgueiro Maia, porém, espalhou o boato de que, no Largo do Carmo, os 50 primeiros que chegassem de manhã, pela fresca, no dia 25 de Abril, poderiam dar três voltas e tocar a buzina. Assim se juntou uma data de gente, que assustou os que estavam no quartel.
Marcello Caetano decidiu, por essa altura, que aquilo que lhe apetecia mesmo era continuar a escrever livros de Direito Administrativo e não mandar no país. Como sofria muito com o frio, o que lhe empenava a mão, deu um pulo à Madeira, para ganhar cores e alento. Mesmo assim, achou a ilha um pouco ventosa e rumou ao Brasil, destino de férias que muitos portugueses de boas famílias descobriram em Abril e Maio de 1974, enquanto alguns alentejanos sem carta de condução lhes descobriam Porsches nas garagens das herdades, ainda com chaves na ignição, e se divertiam a tentar fintar azinheiras com eles, nem sempre com sucesso. Marcello Caetano deixava assim Portugal com desalento mas, ao mesmo tempo, com alguma esperança no seu afilhado Marcelo, na altura com 25 anos, que desde tenra idade assombrava toda a família e conhecidos (aos dois anos, diz-se, coloria mais de 50 livros por semana e a toda a família os resumia, aos Domingos, depois do jantar, que se seguia à missa, que se seguia a umas braçadas no rio Trancão, na altura limpo).
Não se pode falar do 25 de Abril sem falar de Álvaro Cunhal e da sua farta cabeleira. Cunhal dirigia, na clandestinidade, uma brigada de ardinas que distribuíam um jornal chamado "Avante". Cunhal inventou, mais tarde, a "Festa do Avante", com música e cigarros que cheiram a lareira. Andou na rua abraçado a Mário Soares mas não gostou, tendo vindo mais tarde a desentender-se com ele e não o abraçou mais, pelo menos em público.
Mário Soares tinha ido experimentar o InterRail até Paris, mas perdeu o bilhete de volta e ficou lá por algum tempo, a assentar tijolo (era maçon, como se diz lá). Juntou dinheiro para voltar e, ao chegar, por acaso, a Santa Apolónia, no dia 28 de Abril de 1974, encontrou uma multidão em delírio, que esperava o Trio Odemira. Com os dotes que todos lhe conheciam, Soares convenceu a multidão de que ele próprio não se limitava a ser um membro do Trio Odemira. Ele era todo o Trio Odemira numa só carne. A história pegou e o povo rendeu-se àquela trindade unificada, o que gerou dividendos políticos para toda uma vida.
Figurinha mítica da revolução foi Otelo Saraiva de Carvalho, o homem que mais respostas acerta num minuto, desde que a resposta certa seja "pá". Otelo era uma espécie de PBX do 25 de Abril e dava muitos recados, muito depressa, a muita gente, não se sabe bem porquê.

Havia muito mais a dizer, mas o Incontinental não vai continuar a explicar a revolução, caros jovens, porque já deu o seu contributo. Se desejardes saber mais, contactai alguém que a tenha vivido a sério, principalmente nos agitados tempos que se seguiram ao 25 de Abril. Tentai, por exemplo, um membro do MRPP. Escrevei para o e-mail da Comissão Europeia, ao cuidado do senhor Presidente, e pedi um relato mais personalizado.