Auto-estima
Ligo a televisão às duas da manhã. Um político que desconheço, envergando camisa fina e óculos de aro grosso dourado, explica que o país não está para riquezas, aconselhando apertar o cinto (que não o seu, que anda bambo nas calças) e ter tino no uso do dinheiro, que é para gastar em bens de primeira necessidade, como pão, leite e empréstimos das habitações, e não em delírios desajustados à nossa situação actual, como cigarros, boletins do euromilhões e chouriço.
Ainda tentando digerir esta informação, dou de caras com Vítor Constâncio, que, sacando do seu próprio martelinho do São João, explicou, dando pancadinhas na cabeça de todos nós, que a economia está a abrandar e que boa ideia era mesmo que os salários não subissem.
O nosso bem-estimado Primeiro-Ministro, que costuma transpirar confiança e não receia expô-la ao mundo, vem também falar da crise, que já a previa, atento, mas não tinha dito nada para não nos incomodar, o que até foi bom, porque inquietações já temos que cheguem e cada um sabe de si.
Entretanto, alguém achou por bem repor as imagens da Quinta da Fonte, não fosse alguém ter passado estes dias em coma e perdido alguma das quinhentas reposições anteriores do agora famoso vídeo de 20 segundos, já nomeado paras as Curtas de Vila do Conde. Nem faltou sequer Paulo Portas a comparar o bairro a Beirute, afirmação bombástica e impressiva, embora injustamente penalizadora para a cidade libanesa.
Por fim, lê-se o título de uma revista: "gasolina nunca mais vai ser barata", não fosse alguém ter dúvidas e cometer a imprudência de ostentar um fiozinho de esperança.
Tudo isto seguido.
Talvez seja do sono, mas, no fim de tudo isto, gostaria de poder votar no Batatinha, nas próximas eleições.