Üs nâzïs!
Qualquer frase que inclua as palavras "Partido", "Nova" e "Democracia", por esta ordem, é dotada de uma comicidade que ultrapassa largamente a capacidade de processamento do homem médio (ou mesmo do homem médio-mais).
Se à ideia - em si mesma hilariante - do exercício da actividade política através do PND juntarmos um factor geográfico que consiste em esse exercício decorrer na Madeira, serão já poucos os homens que conseguirão suportar semelhante embate factual.
Vem isto a propósito de um deputado da Assembleia Legislativa da Madeira ter aproveitado "a discussão da alteração ao regimento, proposta pela maioria social-democrata, para chamar fascista ao líder desta bancada Jaime Ramos. E, depois de ter exibido a bandeira com a cruz suástica na tribuna, colocou este pavilhão no lugar daquele deputado que, entretanto, tinha abandonado o hemiciclo com o respectivo grupo parlamentar". O vídeo está neste mesmo link.
O acto é, ao contrário do que possa parecer, compreensível. Justificável, até.
Antes de mais, convém notar que a acção se centra na Assembleia Legislativa da Madeira, uma espécie de réplica do Parlamento à escala de 1 para 10, que faz com que os deputados pareçam adolescentes em visita intempestiva ao Portugal dos Pequeninos.
Na pequenez do local, manifesta-se pois um deputado de um pequeníssimo partido. Esta pequenez dentro da pequenez (ou pequenez de segundo grau) transporta-nos, assim, para um campo do conhecimento político pouco explorado: a nano-democracia, cuja análise pertence mais ao campo das suposições do que ao mundo das comprovações, uma vez que não existem instrumentos suficientemente desenvolvidos para revelar à ciência os seus mistérios. É uma espécie de viagem ao átomo através de uma lupa.
Este acto do deputado madeirense veio agitar a discussão em torno da nano-democracia, pois parece resolver o grande enigma da barreira do duplo grau de pequenez. Segundo alguns teóricos, o limite da física seria o segundo grau - o átomo da nano-democracia -, em si mesmo incindível, enquanto outros admitiam a existência de um terceiro grau.
Ora, quando, na pequena Assembleia (pequenez do primeiro grau), o deputado do pequeno partido (pequenez do segundo grau), praticou aquele acto de indiscutível pequenez humana, parece ter obtido a comprovação, que se julgava impossível, de um terceiro grau de pequenez.
Sabendo que corria o risco de, no mítico terceiro grau, desaparecer a olho nu, bem andou o político ao erguer a bandeira nazi, fazendo apelo à memória de um partido que marcou presença pela gigantesca e activa participação dos seus militantes. Os dois extremos, um partido e o seu contrário, o alfa e o ómega da ciência política, a tese e a antítese, sintetizaram-se na mente prodigiosa do deputado madeirense, que, como o enorme "Colidor de Hadrões" franco-suíço, só trabalha as partículas no vácuo.
Bem-haja, pois, senhor deputado, por haver consagrado a sua carreira à ciência. Poderão os seus pares não o entender hoje, mas as gerações vindouras saberão reconhecer-lhe justo valor, e certamente terá o seu retrato em destaque na futura sede do PND: Partido da Nano-Democracia.