29.1.06

Concatenações

Lembram-se quando a TVI, num acesso de generosidade, foi arrancar um menino pastor ao sossego de Pitões da Júnias para lhe mostrar o Mantorras e o Mar? Pois sinto que, desta vez, não só a TVI mas todos os outros canais generalistas andam a fazer o mesmo com todos nós para mostrar a neve, como se nunca tivéssemos saído da nossa aldeia no Quénia.

27.1.06

O Provedor do Incontinental responde aos leitores - I

Joseph R., provedor do Incontinental (fotografia de arquivo)


O Incontinental é uma publicação respeitável e goza de mais credibilidade junto dos internautas do que o armador do Prestige junto dos apanhadores de lapas da Galiza. Pela sua redacção passaram grandes nomes do jornalismo, alguns com oito ou mais sílabas.
O redactor-editor-director-mahatma deste blog fez questão, desde a primeira hora, de colocar à disposição dos estimados leitores um provedor, de seu nome Joseph R., que acumula o cargo com funções pontifícias em Roma. O que aqui se publica, com espírito de abertura democrática, são as interpelações dos leitores e as respectivas respostas do senhor provedor, sempre em sete línguas, das quais transcrevemos apenas o português.


"Confio no Incontinental mais do que em qualquer outra fonte de informação. Na noite das eleições presidenciais, desliguei a televisão e o rádio, por considerar que nenhuma estação era merecedora da minha confiança. Decidi acompanhar tudo pelo vosso blog e fui carregando no botão "refresh" do Internet Explorer de 10 em 1o segundos até hoje, terça-feira, dia 24. Estou um pouco zonza, sangro abundantemente da unha do indicador direito e ainda não sei quem ganhou as eleições."
Maria Papoila, Vila Nova de Gaia
Cara Senhora,
infelizmente, só temos más notícias para si. Na verdade, o Incontinental fez uma cobertura das presidenciais que não teve paralelo na comunicação social portuguesa. Enquanto as televisões recorriam a arcaicas animações computorizadas e gráficos tridimensionais, nós colocámos um chip na cabeça de todos os eleitores portugueses. Ficámos, assim, com um retrato fiel do sentimento nacional, o que nos permitiu concluir, ainda antes do fecho das urnas, que a maioria das pessoas pensava que ia votar para o melhor treinador europeu ou escolher o final da telenovela "Mundo Meu", embora estranhamente todos tenham esperado encontrar no rol o candidato Garcia Pereira. Acabou por ganhar o candidato de Boliqueime, com 3 milhões de bigodes e um milhão e meio de barbas desenhadas pelos eleitores. Alegre foi desclassificado por fraude, ao tentar passar fotografias já com barba. Jerónimo ficou prejudicado pelo facto de cerca de 50 milhões de comunistas portugueses ainda não terem percebido que podem sair da clandestinidade, vivendo todos numa cidade secreta construída no subsolo entre a segunda ponte do Feijó e Azeitão. Soares não saiu beneficiado ao ser o último da lista num país onde a população é pouco dada à leitura. Muitos quiseram votar em Louçã, mas o segundo nome, Anacleto, era demasiado cómico. Por fim, Garcia Pereira executou mais uma vez o número clássico de votar repetidamente, usando múltiplos disfarces, até ser descoberto. Desta feita, conseguiu votar 23622 vezes (ultrapassando a sua marca pessoal, mas ainda abaixo do primeiro do ranking mundial, Robert Mugabe), tendo sido detido em Nelas, pela GNR local, envergando uma armadura de latão.

Com este relato exclusivo, esperamos ter merecido o perdão da estimada leitora. Tentámos publicá-lo antes, logo no dia 22, mas fomos interrompidos pelo discurso de Manuel Alegre, que Deus castigou imediatamente, através de um dos seus anjos (o das muletas).

O Provedor do Incontinental responde aos leitores - II

Joseph R., provedor do Incontinental, tentando descobrir quem lhe roubou a parte de cima do disfarce de capuchinho vermelho, na última festa do blog.

"Tenho lido o vosso blog com atenção. Enquanto outros promovem o aprofundamento da cultura com referências a artes e espectáculos ou reflectindo sobre a actualidade política, os vossos textos são pobres e superficiais, incidindo sobre temas mundanos ou sobre aspectos laterais dos poucos assuntos que poderiam interessar-me. As referências à arte e aos acontecimentos são pouco analíticas. No fundo, não me sinto intelectualmente estimulado pelo vosso blog e sugiro uma mudança de rumo".
Renato Linho, Lisboa
Caro leitor descontente,
mil perdões por ter sujado os olhos. Penso que a sabedoria deve consumir-se em doses moderadas ou o país rapidamente sucumbiria de enfartamento. Lembro-lhe que este blog tenta servir Portugal (daí receber generosos subsídios de todos os quadrantes políticos e titulares de poder, permitindo ao seu autor escrevê-lo a partir de um iate em águas internacionais). Saberá certamente que Portugal é um país com uma taxa de penetração da cultura muito baixa, além de sofrer de reduzidíssima auto-estima. Ora, esses analfabetos deprimidos andam estranhamente ausentes do Portugal dos blogs, onde todos lêem, citam, analisam e opinam com o mesmo furor com que o marinheiro irrompe pelo bordel depois de seis meses no mar. Quanto à auto-estima, o blogger português médio faz com que qualquer conversa de José António Saraiva pareça o diário de um adolescente com borbulhas. Os nossos bloggers parecem mesmo um satélite do seu próprio ego. De onde vêm, então, estas pessoas que parecem não andar nas ruas? Claramente, viveram toda a vida em casulos domésticos, esperando pacientemente a alvorada da internet.
Como calcula, estimado leitor, a imensa maioria do povo não pode receber a cultura que v/ ex.a espera aqui encontrar de uma só vez, tal como um amish não pode, de um momento para o outro, iniciar-se na filmografia de
Ilona Staller. A nossa linha editorial ligeira não consente na difícil digestão de um Borges ou de uma Yourcenar. Por outro lado, a crónica depressão lusitana reclama piadas fáceis com assuntos corriqueiros. Mas não perca mais tempo. Vá! Deixe esta pasmaceira e faça já uma citação de Habermas no seu próprio blog, para podermos abrir a boca de espanto. À noite, exija irado, no clube de vídeo, que tirem as legendas à colectânea de cinema escandinavo. Assim, brilhará com os demais e poderá deitar-se satisfeito, lendo, na cama, o seu exemplar do "24 horas".

22.1.06

Retalhos da vida deste blog

Com cerca de 30 visitantes por dia, em média, a léguas do Clube Português de Columbofilia, este blog persiste, insensível aos contadores: ele é o Garcia Pereira dos blogs.

Das 30 pessoas que visitam o site, quase todas ao engano, milhares têm perguntado: porquê Incontinentia Buttocks? Meus caros, Incontinentia Buttocks era a mulher de Bigus Dickus em "A Vida de Brian", o melhor filme dos Monty Python.

O senhor leitor já vai tarde para a sessão de autógrafos que o Autor deste blog decidiu organizar no Estádio do Maracanã, sem interrupções, entre os dias 2 e 21 de Janeiro de 2006. Numa jogada de inexcedível prudência, o Fórum Social Mundial e a ONU cancelaram duas conferências que tinham marcadas para o Rio de Janeiro e que coincidiam com o evento. O preço simbólico da entrada - 1 dólar por pessoa - foi encaminhado, em parte, para instituições humanitárias e o restante liquidou a dívida do terceiro mundo. O Dalai Lama, entrevistado no quilómetro 8 da fila, afirmou-se atormentado pelo que qualificou como uma "mente imunda", mas novamente questionado à saída, três dias depois, sorria em beata paz. O signatário, terminada a sessão contínua, enquanto curava alguns asmáticos tossindo para eles sem tapar a boca, afirmou que não fez mais do que a sua obrigação e, coçando as virilhas, libertou um primo do jornalista, acamado na distante Minsk, das agonias da sífilis.

20.1.06

Coisas boas...

...hoje: publicidade.

Adaptação rápida de uma piada velha, em tempo oportuno

A unidade de inteligência é o "tante".

Há o tante,

o decitante,

o centitante e

o militante.

12.1.06

CSI

Naquele que parece ter sido o decesso cujos contornos mais tardaram a ser deslindados, Lee Berger, um paleoantropologista, afirma que a criança Taung foi morta por uma águia, há dois milhões de anos. A criança Taung não foi bafejada pela sorte. Desde logo, coube-lhe a ingrata tarefa de representar a ligação entre o Homem e o macaco, olhando-a o primeiro com irritante condescendência e o segundo com desdenhosa inveja da rápida ascensão social. Analisando de perto a imagem, constato que se trata de uma criança pequena, mirrada e com olhos enormes, tristes, encovados. Os dentes revelam poucas rotinas de higiene pessoal, o que era confirmado pela mãe-Taung, em ocasionais confissões à vizinha: "aquela catraia só come porcarias". A criança Taung não iria longe, de qualquer forma, até mesmo para os padrões da época, bastando atentar na imagem para perceber que não tinha maxilar inferior, nem braços, bem pernas, nem tronco. Não se compreende o mistério por trás da morte: afinal, analisando a figura, percebe-se que o habitat da criança era a mão de Lee Berger, o paleoantropologista, a poucos centímetros da ave alegadamente assassina. Esta, quando interrogada, afirmou nada saber sobre os factos e, enquanto regurgitava o que parecia ser um braço, sustentou que, há dois milhões de anos, pelas oito da noite, se encontrava no Bom Jesus, em Braga, agradecendo uma cura de caspa, o que foi confirmado pelas testemunhas Carlo e Guido, dois rouxinóis sorridentes que surgiram agarrados a quatro rolas de vestido curto. Procurei obter mais informações junto do paleoantropologista, que nada soube acrescentar, embora tenha chorado muito, lamentando nunca ter conhecido a intimidade de uma mulher.


O Incontinental pede desculpa a todos os que, olhando precipitadamente para a imagem, julgaram ver a águia do Benfica e foram a correr buscar um bombo, um apito e um foguete. Podem guardá-los até ao próximo jantar de família.

Figuras históricas em acções pouco conhecidas

(Abraham Lincoln coça discretamente o rabo, aproveitando
uma distracção monentânea de Ulysses S. Grant)

11.1.06

Vinte e dois segundos...

...de Seinfeld: a mensagem do atendedor de chamadas do George.



9.1.06

O fim dos segredos

É oficial: Portugal não tem mais segredos para o mundo, pois foi descoberto o mítico, o único, o inigualável Rembrandt de Faro.


O Rembrandt de Faro (pequeno tributo a Marcel Duchamp e ao movimento "dada")

8.1.06

Jon Stewart no Crossfire

Para quem gosta do Jon Stewart é simplesmente delicioso ouvi-lo moer os dois "gladiadores" do Crossfire. Se tiverem interesse e algum tempo, aqui está o texto. Para quem, além do interesse e do tempo, tiver alguma largura de banda, aqui estão o som e a imagem.


Ligação útil

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5.1.06

Carta aberta a um jovem que acompanha qualquer um dos candidatos à Presidência e aparece cerca de três filas atrás dele

Caro amigo:
Vi-te ontem na televisão. Surgias atrás do teu candidato. Não logo atrás, mas seguramente na terceira fila do séquito. Apareceste alguns momentos, quando todos se inclinaram para a direita e tu arrancaste um pouco atrasado. Não te via há alguns anos. Estás crescido, já não tens borbulhas e, se não me lembrasse da forma convicta como lideravas a turma na escola, diria que estavas feliz apenas por ser um seguidor. Guardo ainda aquela fotografia que tirámos todos, em que aparecias ao centro, olhando a câmara como quem acabara de caçar todos os outros num safari. Na faculdade, sempre te dedicaste muito à política. Era lendária a tua habilidade para colar cartazes. Não me lembro bem das intervenções que fizeste nas discussões propriamente políticas que íamos tendo. Nesses momentos guardavas-te com discreta dignidade. A certa altura, começaste a aparecer menos, a não ser por alturas de eleições para a associação, em que me explicavas, muito paciente, como o teu ponto de vista ia mudar a vida de todos e a minha por arrasto. Era para perguntar quem te pagava os autocolantes. Passou-me e agora é tarde. Fazias-me sentir especial, pela atenção que me davas, mas via que outros cabiam no teu grande coração, pois também eles eram especiais, felizmente para ti. Nem vais acreditar nisto, mas não me recordo de ver o teu nome na pauta, apesar de seres um aluno excelente. Bem... Penso que eras, porque conseguiste aquele emprego de destaque assim que acabaste o curso. Até comentaste, então, que havia muitos desempregados que não queriam trabalhar e que tu não tiveste problema nenhum. Chamaram-te logo para aquele instituto de cujo nome não me recordo. Depois, passaram-se tempos e tempos em que lia notícias tuas no jornal local e julgava reconhecer-te, a preto e branco, meio desbotado pelas nódoas de café, apertando a mão, sorridente, àquele senhor que foi condenado há dias por peculato, mas recorreu da sentença.
Vejo que progrediste, desde então. Pela posição que ocupas, nessa terceira fila, antevejo funções de responsabilidade. Sagaz como és, sabes distinguir entre a velhinha lambuzadora e o cuspidor insidioso e ambos impedes de importunar a relíquia viva que proteges. Sei que nem tudo são rosas. Tens que andar muito a pé, mas faz-te bem, porque passas a vida em reuniões. Ainda não ocupas a posição de um verdadeiro conselheiro, mas o líder perguntou-te, há uns tempos, o que achavas da gravata dele e pareceu mesmo que ia esperar que respondesses. De eleição em eleição, vais avançando da terceira para a segunda e desta para a primeira fila dos seguidores, onde a câmara de televisão já foca e podes oferecer ao mundo a tua face, como o emplastro, mas com um ar de aprovadora seriedade. Entretanto, terás que vencer todos os que se interpõem neste percurso, principalmente aqueles que interrompem constantemente toda a gente na preparação das acções, lá no partido, chamando a atenção para "incoerências" da mensagem, "banalidades" do discurso e querendo, à força toda, discutir assuntos que afirmam ser importantes mas tu sabes bem que não existe para eles, ainda, "oportunidade política". Deixa lá. Esses, daqui a uns anos, cansaram-se de tudo. São, à partida, derrotados. Aos quarenta, terão desaparecido e tu ainda lá estarás para dar e durar.
Deixo-te agora com os pés de molho, a descansar, no quarto de hotel da cidade de onde arranca a campanha amanhã cedinho. Enquanto olhas a rua da janela, estremece-te por um momento a ideia de que ainda não fizeste nada na vida. Logo a esqueces: que tolice! Fizeste muito e vais fazer ainda mais do que sabes melhor. Por hoje, contenta-te com polir os sapatos. Para o resto, já faltou mais...

4.1.06

No tribunal

You may rise.

O conde


Lembram-se dele? Desta vez, passou-se.

2.1.06

Acontecimentos do mundo do futebol vistos por um ignorante na matéria - I (tabefes)

"Vítor Dinis, indíviduo que agrediu Luís Filipe Vieira no aeroporto de Guarulhos, em São Paulo, foi insultado e agredido no aeroporto de Lisboa, esta manhã, por um elemento que faz segurança ao Benfica, acompanhando a equipa muitas vezes" (no site do Record, hoje).

Pasmei ao ler isto. Afinal, tinha percebido tudo mal. Quando vi as imagens, pensei que esse tal Vítor Dinis e o outro que lhe deu o tabefe eram um par de (péssimos) comediantes que tentavam imitar o grande clássico dos Monty Python "Fish Slapping Dance".



1.1.06

Muito para além da mobília

"It has even been estimated that one in 10 Europeans are conceived in an Ikea bed", BBC dixit.
Fora deste lote ficou o Pinóquio, que foi feito no IKEA.