César (o Abominável Homem) das Neves não lê o Incontinental.
É triste, porque sempre pensei que o fazia, quando ninguém estava a ver - como, de resto, todos os outros 3 leitores.
Havia
aqui deixado algumas ideias basilares de modo a elevar o nível do debate sobre o aborto.
Depois de ter registado, com agrado, as intervenções do Bispo de Bragança e do Cardeal de Lisboa. Pensei, com todas as minhas forças, que a intervenção de D. José Policarpo tinha catapultado a riqueza do debate.
Nada disso.
César Neves, fazendo tábua raza de tudo o que foi aqui dito, declarou hoje que a despenalização fará do
aborto tão banal como um telemóvel.
Não recusamos a forte imagética ínsita à expressão. Não recusamos que até tem a sua musiquinha e pode ficar no ouvido, mas, que caraças,
a comparação?
A comparação, César das Neves? Não tínhamos já passado essa fase? Eu sei que não faz parte da Igreja, mas também já só lhe falta a sotaina!
Ainda por cima, e apesar de tal musicalidade inegável, é uma comparação oca. Em que botão do aborto é que se atende a chamada?
Outra coisa: se estivermos perdidos de pessoas queridas, por exemplo, no IKEA ou no Colombo, é banal o telemóvel? E se for numa praia do Algarve, em Agosto?
Primeiro, teria de ver se há uma cabina de som. E, se tivesse essa sorte, teria de passar pela vergonha de ter uma multidão de gente a ouvir:
«
Perdeu-se da sua família criança com cerca de 50 anos - mas que, quando abre a boca, parece ter 132 -, com cabelo grisalho, pêra e um forte odor a sacristia».
E a única sorte de tudo isto é que
só mesmo o João César das Neves corresponde a esta descrição...
Ou seja, no fundo, bem lá no fundo, a sua frase é um vídeo da Shakira: vê-se bem, ouve-se pior, e não dá grande moca, mas distrai...
Esperávamos melhor de si.
Vamos lá a puxar pela imaginação, Senhor das Neves.
No mínimo, qualquer coisa com conteúdo.
No mínimo, qualquer coisa que tilinte o espírito.
No mínimo, uma frase lapidar para esta geração.
Olha, no mínimo uma anáfora, pá!