Começar o ano citando os clássicos #2
«Portugueses, povo em geral.
Faz hoje uma semana que começámos esta cruzada, precisamente 7 dias que, como é sobejamente sabido, prefazem, eles próprios, uma semana. 7 longos dias de alegrias, de bem-hajas, de constatações de que nasceu aquilo de que todos estavam à espera: uma TV eximida, franqueada, licenciosa e dissoluta. Dissoluta tão só porque franqueada, franqueada porque eximida, eximida sem, no entanto, deixar de ser licenciosa. O que é, afinal, o que o povo português esperava de nós: uma programação com 2.8% de eximismo franqueado, de dissolutismo licencioso e, principalmente, de franquesismo eximado, sem os quais não é possível fazer uma televisão clara e com uma linguagem simples e acessível, que toda a gente perceba.
Boa noite.»«Portugueses, é simples e modestamente que me encontro perante vós. Não como Poncius Pilatus, lavando as mãos, mas sim como um guerreiro corajoso e intrépido espetando a lança no ventre baixo da besta. Uma besta feroz que, neste caso, sois vós: bestas, que, de tanta força que tendes, me façais por vezes tremer, vacilar, gadelar.
Tremer, mas será que um Casca treme? Vacilar, mas será que um Casca vacila. Gadelar, mas será que um Casca gadela?
Não. É por isso que a minha política será sempre a de apontar corajosamente para baixo e de gritar bem alto 'Povo português, nós estamos aqui para vos distrair (...), para vos provar afinal que a minha lei não será jamais a lei do absurdo. Um povo mastigado é um povo oxótomo. E oxótomo porque lapídeo; lapídeo porque cióptico; cióptico tão-só porque suprajurásseo'. Povo português, boa noite. Até para a semana, ou até já, caso eu ainda vá a tempo de rever a lei de direito de antena - já não devo ir a tempo porque o bar já está fechado. Um bem-haja muito grande e até para a semana.»
Professor Doutor por extenso Oliveira Casca, "O Tal Canal", 1983.