15.6.07

"Sócrates e Cavaco", por VPV

Vão achar esta que minha crónica tem um tom diferente do habitual.
É doce.
Gosto muito de Sócrates e Cavaco. Sei que há quem não goste, neste ermo pateta que ridiculamente esmola na ponta da Europa, mas eu gosto.
Conheci Cavaco primeiro, claro está. Numa qualquer tarde de Verão, deu-se a conhecer, frio e impassível. Olhando para ele, pouco se podia dizer, quase nada se via. Pelo contrário, era como se nos devolvesse apenas uma imagem difusa de nós próprios.
Estranho. Agradável, mas estranho. Acima de tudo incompleto.
Quando vi Sócrates pela primeira vez, lembrei-me logo de Cavaco. Eram o complemento natural um do outro. Sócrates mais quente, mais aberto - mais escorregadio, in a way - mas buscando inconscientemente a temperança de Cavaco.
Não descansei enquanto não os juntei e, quando aconteceu, foi simplesmente maravilhoso. Para mim, não mais se separaram.
Hoje, ao vê-los juntos diariamente, sinto uma comoção indescritível, um fogo no peito descendente. Com eles, sou verdadeiramente feliz. Quando se juntam, esqueço-me de tudo o resto, da deprimente miséria intelectual que me rodeia e abafa, da inconcebível portugalidade que me atira violentamente para os abismos da depressão. Deste poço só Sócrates e Cavaco me podem libertar.
...
Esperem lá...
Eu disse "Sócrates e Cavaco"?
Diabo!
Queria dizer "whisky e gelo"...