18.12.06

Um ano de Incontinental, parte IV: uma mini-biografia da "Wankipedia, the wankers' enciclopedia"

Reparámos que muitas biografias de encomenda perdem a objectividade, caindo facilmente na bajulação do visado, não disfarçando os exageros e acrescentos das qualidades nem a omissão deliberada dos defeitos. No entanto, tal fenómeno não nos incomoda, pelo que mandámos escrever uma pequena biografia do autor do blog a uma empresa especializada, que a disponibiliza no seu famoso website "Wankipedia: the wankers' enciclopedia".

"Desde muito cedo o autor do Incontinental sonhou dedicar-se a causas humanitárias, salvar o mundo, ser reconhecido por tal e, por essa via, conhecer a intimidade de uma mulher. Quando, ainda no colégio, um padre lhe explicou que a intimidade pode conseguir-se por caminhos menos indirectos, exclamou o petiz - "Mas o que fazemos ambos num chuveiro ao mesmo tempo? Onde estão os meus amigos?"
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Assim desfeita, abruptamente, mais uma incógnita do mundo, o jovem mergulhou, afoito, na filosofia, estudando atentamente o almanaque Borda d'Água, noites a fio, tentando descobrir as relações ocultas entre as marés, a natureza humana e a calendarização da feira semanal de Melgaço. Quando descobriu, finalmente, e contra todas as expectativas, essa mesma relação e concluiu que, de facto, ela explicava a natureza humana em todas as suas cambiantes, logo se desinteressou do assunto e procurou outras ocupações.
Nos anos que se seguiram, foi impossível dominar um sentimento de constante insatisfação, que o impediu de ter gosto nos ofícios que, contrafeito, abraçava. O Estado olhava-o de esguelha, desconfiado do seu génio e independência de pensamento. Não admira, pois, que qualquer pretexto servisse para persegui-lo e, a certa altura, tentaram prendê-lo por exercer ginecologia sem habilitações (como se não exercesse melhor que muitos encartados, pois fazia-o por gosto e não por dinheiro). Exilou-se em Lanzarote, mas, encontrando o local mal frequentado, partiu para a Amazónia. Aí, escutou, atento, uma prelecção particularmente tocante de um grupo de ambientalistas que explicavam a progressiva destruição de espécies animais e vegetais únicas às mãos das empresas que, sedentas de dinheiro, abatiam a floresta e privavam o mundo do seu principal pulmão. O relato tocou fundo num ponto sensível do seu coração e resolveu, ali mesmo, ser madeireiro.
Enriqueceu muito e depressa.
O dinheiro, porém, não lhe enchia, ainda, as medidas generosas, pelo que se entregou, por completo, às artes. Foi escultor, poeta, dramaturgo, actor, pintor e realizador de cinema, tendo recusado os Nobel de todas as categorias (incluindo os científicos e aquele mais larote, da paz), foi entrevistado vezes sem conta por todas as principais figuras da TV (o 60 minutes preparou um especial chamado 120 and a half minutes e Jay Leno tremia, à sua frente, sem saber o que dizer).
Entretanto, nas horas vagas, resolveu juntar raspas de limão com doce de maracujá e umas ervas do quintal da mãe, descobrindo, por acaso, a cura para o cancro, o HIV e aquela espiral de cotão que se forma no rego do rabo, de onde retirou ainda mais fama e fortuna. No final do ano passado, ficou conhecido como o primeiro homem a escalar os sete maiores picos do mundo às arrecuas.
Apesar de uma vida de conquistas, Dezembro de 2005 foi um mês que começou com uma estranha e inexplicável sensação de vazio, que anos de originalidade não conseguiram resolver. Ocorreu-lhe então o seguinte paradoxo: talvez a solução não fosse ser invulgar, mas antes ser comum, fazendo o que todos fazem. O único problema foi determinar que actividade estaria suficientemente generalizada para lhe garantir o estatuto de homem vulgar. Eliminou o sexo, por raramente ser praticado por menores de 12 e maiores de 60 (salvo clérigos e suas confessadas, que mantêm a fasquia alta), e a ida à bola, porque os estádio andavam vazios. Foi então que reparou que toda as pessoas, de todos as raças, credos, orientações políticas, odor e arrumação de dentes, tinham um blog. O que poderia ser melhor do que esse pandémico e gratuito abrir de pernas à sociedade? Haveria algo mais democratizado?
Quanto ao tema do blog, não foi difícil escolher, pois muitos lhe tinham apontado - aqui e ali com preocupação notória - uma coerente reincidência na parvoíce, a qual, elevada à mais subida potência, mantém viva a obra e, finalmente, realizado o seu autor."