28.6.06

Ils sont fous ces romains


Por incrível que pareça, as frases em itálico são mesmo a sério...

Diz-se no Público: "O presidente da Câmara de Viseu, Fernando Ruas, incitou na Assembleia Municipal a população a correr à pedrada os inspectores do Ministério do Ambiente, na sequência de uma queixa do presidente da junta de Silgueiros, que foi alvo de multa no início do ano por parte de vigilantes da natureza, processo que terminou com a condenação do autarca em tribunal." Melhor ainda, Ruas não nega a justiça da condenação daquele autarca, mas indigna-se uma vez que os serviços do ambiente não multaram uma obra clandestina feita por um munícipe naquela mesma freguesia. Para completar o hilariante quadro, a recomendação irada de Fernando Ruas sobre "esses senhores que na maioria dos casos aparecem para multar as juntas de freguesia" é que "tenham a dignidade de primeiro avisar os autarcas locais. É uma questão de respeito por quem foi eleito pelo povo. Isto é perfeitamente inacreditável".
Na verdade, tem inteira razão. Convém sempre avisar antes de uma fiscalização, seja ela qual for, e antes das do Ministério do Ambiente em particular, porque a população pode não ter pedras suficientemente grandes para receber os senhores da fiscalização com a dignidade que merecem. Há casos documentados em que aldeias inteiras não tinham mais do que gravilha para atirar aos senhores inspectores, o que é profundamente vergonhoso, segundo nos disse Ruas, enquanto polia uma catapulta de menires às portas de Viseu.
Mas o sketch não pára aqui. Sucede que "correr à pedrada" é, evidentemente, uma expressão eivada de subjectividade, como "este quadro é bonito" ou "aquela menina tem um rabo jeitoso", o que leva Almeida Henriques, do PS, a lembrar que não entendeu "as palavras do senhor presidente da Câmara como querendo dizer atirar pedras às pessoas", mas sim como um apelo à "concertação" entre serviços (sic!), presume-se que inspirando-se na famosa técnica de concertação entre os serviços da Palestina e o serviço de polícia de Israel. O próprio Fernando Ruas, em declarações à TSF "nega que tenha feito um apelo literal à violência contra os fiscais e equipara a sua frase à expressão do seleccionador nacional Luís Felipe Scolari de jogos de "mata-mata", explicando que o sentido não é interpretado como sendo causador de morte".
Começaram, entretanto, as aulas práticas de recepção de inspectores, ministradas pelo próprio Fernando Ruas. Assistimos à primeira aula e ficámos impressionados com a dureza do treino. Os alunos são confrontados com dois bonecos que simulam funcionários do Ministério do Ambiente e têm que reagir em conformidade. Uma participante foi liminarmente chumbada porque optou por recebê-los com dois beijinhos. Nas primeiras sessões, utiliza-se areia, até que a mão ganhe algum calo, seguindo-se depois uma bacia cheia de brita.
A nossa entrevista interrompeu-se subitamente quando o autarca largou a correr para apedrejar um carteiro. No regresso, encontrava-se visivelmente feliz. Quando lhe fizemos notar que não se tratava de um inspector do ambiente, confidenciou-nos o seguinte: "sabe, isso é pouco importante. Eu gosto é de mandar as pedras".