29.6.06

Governo de Portugal apoia Timor mas impõe condições


Ao que o Incontinental pôde apurar, o envio da GNR para Timor faz parte de um acordo bem mais complexo, cuja execução não será fácil. Os timorenses reagiram à chegada da Guarda com uma emoção que só costumamos encontrar em felgueirenses orando aos pés daquela senhora que cheira muito a laca. Mas estará o povo timorense preparado para pagar o preço desta ajuda? O Governo Português impôs algumas condições para o auxílio, uma das quais é o encerramento das maternidades de Maliana, Ainaru e Vikeke. Enquanto que as grávidas de Vikeke podem deslocar-se a Baukau e as de Ainaru têm a possibilidade de dar um pulo a Díli, as de Maliana ver-se-ão certamente obrigadas a ter os filhos em Atambua (uma espécie de Badajoz de Timor-Ocidental). A ideia deixou enfurecida a população de Maliana que afirma ter "direito a ter os filhos em Maliana". Uma senhora que entrevistámos afirmou, visivelmente perturbada: "o meu bisavô nasceu em Maliana, o meu avô nasceu em Maliana, o meu pai nasceu em Maliana, bem como as minhas filhas, a Malia e a Maliana". O facto de Atambua ser território indonésio torna a questão ainda mais complexa, pois, na boa tradição de país securitário, não estraga a população com mimos, e as suas maternidades são praticamente indistinguíveis de uma loja de ferrangens instalada numa sub-cave. Fomos até à maternidade de Atambua para ver pelos nossos próprios olhos. Ali Laktami, anestesista e vendedor ambulante de bagaço, recebeu-nos de braços abertos e levou-nos numa visita guiada pelas instalações, onde aprendemos uma nova técnica de esterilização que consiste em deixar os instrumentos cirúrgicos ao sol, sem lavar.
Um comunicado conjunto dos Ministérios da Saúde de Portugal e Timor esclarece que está para breve o encerramento das restantes maternidades timorenses, mas a população pode continuar a deslocar-se a Braga, Évora e Portalegre, que têm "óptimas condições".