30.8.08

Conselhos práticos de jornalismo e marketing

Os jornalistas são uma raça que, quase sempre, se concentram no essencial. Depois do assalto ao BES de Campolide, faz todo o sentido ir entrevistar o dono de um restaurante onde o assaltante sobrevivo trabalhou durante 5 dias. Não é um acto coprófilo, antes pelo contrário, serve na perfeição a função pública de se informar o leitor e, já agora!, rascunhar o 'complexo' perfil de um assaltante de bancos.

Não se pode agradecer o suficiente aos profissionais do Sol pelo seu relevante trabalho. 

Ora, sucede que o assaltante do BES era empregado de mesa e diz-se arrependido pelo assalto. Então foi-se entrevistar o proprietário do restaurante. Porque não? É Agosto... E fica-se com as impressões - profundíssimas, de certeza - que o empresário da restauração ficou do assaltante.
Ora, desde logo e como seria óbvio: «Não tinha jeito nenhum para empregado de mesa e depois de quatro ou cinco dias foi embora», diz o dono do tasco; uma pessoa «muito calada, muito fria, que não se dava com nenhum funcionário do restaurante», ao invés, como se sabe, de qualquer pessoa que vai trabalhar para um sítio novo e não conhece ninguém.
Mas, logo a seguir, vem aquela informação que arrepia a espinha de qualquer mortal, desde que português. Uma informação que, mais que tudo, faz do empresário um verdadeiro génio em marketing. Sigamos o texto: "João Coelho conta ainda que, por pouco, o director desportivo do Benfica, Rui Costa, não foi servido por Wellington". 
Poça! Que sorte, Rui (posso tratar-te por Rui, como se te conhecesse só porque jogas à bola na minha TV desde os teus 18 anos e pareces ser muito simpático, mesmo que nunca na minha vida tenha falado contigo ou tenha estado no mesmo local que tu?)!... Escapaste de boa! Só Deus sabe o que o assaltante faria se te tivesse servido... como, sei lá!, pôr-te um talher ainda meio sujo ou deixar cair uma batata assada nas calças do teu fato sempre impecável...
E porque é que Wellington "por pouco" não serviu Rui Costa? Terá o Rui Costa se sentado numa zona que não era servida por ele? Terá sido o dono do restaurante que destacou o seu melhor homem para servir o mediático Director Desportivo do S.L. Benfica?... 
Não. O assaltante de bancos não serviu o ídolo de massas "por pouco" porque... já lá não trabalhava. A sério!
"Chapeau!", caro senhor empresário da restauração! Chapeau, repito! Você conseguiu pegar numa situação que podia potencialmente ser algo lesiva da imagem do estabelecimento que gere e consegue dizer, no fundo, o seguinte: "É verdade que esse gajo trabalhou cá, mas fiquei logo com a ideia que ele tinha alguma coisa de estranho. Até o despedi e tudo. Ah! Eu já lhe disse que o Rui Costa veio cá comer? E não pode pôr isso lá na sua notícia?...". O isco era fraco mas a jornalista comeu-o. Até o pôs no lead...