10.3.08

Matar, não mata, mas... desmoraliza.

O PS governa com maioria absoluta e as sondagens continuam a dar-lhe vitória para a eleição geral de 2009, ainda que com números menos expressivos. Perfeitamente natural, tendo em conta o esforço que José Sócrates tem empreendido em todas as variantes da gestão da coisa pública.
Veja-se estes últimos dias, por exemplo, no que toca à gestão da paciência dos eleitores (chega a ser tocante a forma como o Governo vai encontrando novas maneiras de brincar com o cérebro do português). Ontem, o Primeiro-Ministro, face ao impressionante número de cerca de 100.000 (cem mil) professores e amigos, que se fizeram deslocar, num Sábado, a Lisboa para protestar contra a política da Educação, disse a coisa mais democrática que já ouvi a um primeiro-ministro pós-25.04: «não é a força dos números que nos impressiona, mas sim a força da razão e dos argumentos».
Percebe-se agora que a maioria absoluta que o PS teve em 20.02.2005 não era uma maioria de número de votos mas uma maioria de razão. Eles tiveram uma maioria de razão absoluta.
E, por maioria de razão, o que já seria um puro gozo para qualquer primeiro-ministro que governasse em maioria absoluta e sem oposição torna-se a folia absoluta, quando pensamos que tal boutade provém de um governante que arranja sempre uma comparação quantitativa qualquer para provar que tem razão (ex.: «não é verdade que o crime violento tenha aumentado em Portugal. Veja-se que, por exemplo, na noite de 23 de Novembro de 2004, antes de sermos Governo, houve 4 assaltos a bombas de gasolina e dois homicídios na área de Loures, enquanto que na noite de 23 de Novembro de 2007 apenas houve 2 assaltos a bombas de gasolina e um homicídio no concelho de Loures. Estamos muito melhores!»).
«O que interessa verificar é que 50.000 professores ficaram em casa. E temos números fidedignos que nos revelam que 35.000 professores vieram enganados, pensando que havia paragem numa das grandes superfícies comerciais, enquanto que, como toda a gente sabe, 15.000 professores não têm cérebro, mas uma esponja na cavidade craneo-encefálica. Dos restantes, metade eram operários da Lisnave a fazer-se passar por professores e a outra metade era composta por todos os eleitores do distrito de Setúbal que votam PCP e o Francisco Louça».

Nunca tivemos tantos desempregados? Desculpe, nunca tivemos tanta população activa!»]

Hoje, para que o falo do Governo não deixasse de bater repetidamente nas frontes do português eleitor provido de sistema nervoso central, Vitalino Canas apresenta um livro denominado "Direitos do Trabalhador Temporário" que, segundo o próprio, «não é bem um livro, é uma brochura no qual se pretende mostrar aos trabalhadores temporários quais são os seus direitos» (começando pelo já conhecido direito, transportado do ordenamento jurídico dos Estados Unidos "you have the right to remain silent...").
O que vem a seguir? António Victorino numa conferência subordinada ao tema "A isenção e a imparcialidade no comentário politico-televisivo"? Jorge Coelho a escrever o artigo "Como se proteger do interesse económico-privado - A consultoria a empresas do sector do betão"? Augusto Santos Silva lançar um livro com o título "A serenidade seráfica e o evitar da tentação propagandística na reacção aos eventos corriqueiros do dia-a-dia"?
Vocês podem estar incomodados.
Eu não! Estou MESMO curioso para saber qual é a próxima...