9.11.07

Comparar o comparável

PIB per capita para lá de alto, serviço público de saúde exemplar, educação prolongada e generalizada, tolerância a outras culturas, civismo a cada esquina, classe política imaculada, respeito pelo meio ambiente e uma sociedade atenta, crítica e instruída?
Ha!... O suposto milagre finlandês é, todo ele, uma gigantesca farsa bem montada, como se vê. Era só uma questão de tempo até um deles se passar e desatar aos tiros numa escola, equiparando imediatamente aquele país a esse outro reduto de sub-desenvolvimento que são os Estados Unidos.
Ah!... Nada como o meu rico país, com o seu diminuto PIB per capita, o seu hospital de Faro em que o doente pneumónico tosse, no corredor de espera, para cima do rapaz com a perna partida, a sua educação fanada como os dentes de um marinheiro com escorbuto e com inconcebíveis taxas de abandono escolar, a sua ignorante desconfiança dos pretos, que só querem roubar, dos chinocas, que abrem restaurantes e fazem desaparecer os gatos vadios da vizinhança, para não falar dos árabes que adoram o terrorista do Alá, o meu rico país e os seus cidadãos que escarram como quem respira, ultrapassam pela direita e falam alto em todo o lado, os seus políticos bonacheirões, que variam entre o manipulador, o demagógico, o idealista, o pateta, o oportunista, o ignorante, o inútil, o petulante e combinações dos anteriores, as pestilentas descargas higiénicas de trampa de porco e resíduos de tinturarias directamente para os rios e o seu lixo na mata, tudo isto gente que chora pela menina inglesa e acompanha, pelas manhãs do Goucha ou as tardes da Júlia, todos os espirros da investigação que a procura, sem cuidar da miséria que a rodeia à porta de casa, quando não dentro dela, e para quem qualquer diversão é melhor do que ouvir quem exerce o poder por e para nós, que esses só querem é "poleiro", nem ouvi-los, quanto mais escrutinar o que fazem, amada pátria onde, porém, ninguém desata aos tiros numa escola, nem há violência, é sempre tudo uma festa, uma alegria, tirando uma ou outra coisa como aquela história dos três homens que amarraram outro ao tronco de uma árvore, no Porto, com um colete reflector a arder.