Os Dez Mandamentos: a linha "automobilista"
Sempre atenta às novas tendências da fé e bem sabendo o importante filão que são os homens do automóvel, a Igreja acaba de lançar mais um produto da linha "Os Dez Mandamentos". Desta vez, os Dez Mandamentos do bom motorista.
Como é sabido, muitos homens e mulheres (mas principalmente, homens) condutores são pessoas de fé. A sua vocação como veículo privilegiado (que bela metáfora a servir a comicidade!...) de propagação da fé é bem visível, quer nos terços que são colocados à volta do espelho retrovisor central quer nas belas imagens de Nossa Senhora de Fátima ou de São Cristóvão, padroeiro dos motoristas, que as pessoas gostam de colocar no denominado tablier.
Entre os Mandamentos do bom motorista, destacam-se os seguintes: "Não guiarás sob influência do álcool", "Respeitarás os limites de velocidade", "Não considerarás o carro como objecto de glorificação pessoal, nem o usarás como local de pecado".
Há, contudo, aspectos que ainda não são pacíficos. Primeiro de tudo, muitas pessoas mais desconfiadas têm-se perguntado se estes Mandamentos também foram escritos pela "mão de Deus" em 2 tábuas ou se foi um bispo mais zeloso (recentemente atropelado numa passadeira do Estado do Vaticano ou coisa que tal) que terá reconhecido a importância "comercial" dos automobilistas e desatado a escrever dez frases mais moralistas sobre condução. A Igreja considera estas objecções como pura má vontade e "desprezo pelo Divino".
Por outro lado, alguns outros («uns hereges!», nas palavras do porta-voz do Vaticano) têm perguntado qual o interesse destes mandamentos quando há Códigos da Estrada em vigor?
Na verdade, e tomando como exemplos os acima transcritos, conduzir sob o efeito de álcool já é considerado crime em quase todos os países, a partir de uma determinada taxa de gramas por litro de sangue (que em Portugal, por exemplo, se cifra nos 1,2g/l), enquanto que o desrespeito pelos limites de velocidade conduz a contra-ordenações.
Caso diferente pode acontecer na análise do outro mandamento "Não considerarás o carro como objecto de glorificação pessoal, nem o usarás como local de pecado".
Há que decompor a referida disposição divino-legal em duas partes. Considerar o carro como objecto de glorificação pessoal parece condenar os adeptos do tunning às labaredas do Inferno - e é bem feito! No entanto, as modificações operadas no automóvel que não constem do livrete parecem já estar contempladas no Código da Estrada.
Quanto à segunda parte do referido preceito, "não usar o carro como local de pecado", podemos depreender que se apela a um conceito de meta-pecado. De facto (se o desrespeito pelos Mandamentos do Bom Motorista se terão de qualificar como desrespeito pelas leis de Deus, logo, pecado), a Igreja prescreve ser pecado usar o carro para o pecado, o que, bem visto, é simples parvoíce (para não dizer masturbação metal, porque pecado).
Numa visão geral, a Igreja parece entender que qualificar estas acções como "pecados" irá ter um efeito dissuasor sobre o crente/prevaricador.
Tendo em conta que o cometimento de um "pecado" não apresenta como consequência a condenação em uma multa ou coima, parece que os crentes não arrepiarão caminho na sua estrada de perdição (esta é a última, juro. Escrever metáforas não só cansa como é parvo).
Deste modo, estes Mandamentos do Bom Motorista parecem condenados a ficarem pelas boas intenções. E, como diz o povo de Deus, "de boas intenções está o...", hum... oh, bem!, caguem nisso.
Como é sabido, muitos homens e mulheres (mas principalmente, homens) condutores são pessoas de fé. A sua vocação como veículo privilegiado (que bela metáfora a servir a comicidade!...) de propagação da fé é bem visível, quer nos terços que são colocados à volta do espelho retrovisor central quer nas belas imagens de Nossa Senhora de Fátima ou de São Cristóvão, padroeiro dos motoristas, que as pessoas gostam de colocar no denominado tablier.
Entre os Mandamentos do bom motorista, destacam-se os seguintes: "Não guiarás sob influência do álcool", "Respeitarás os limites de velocidade", "Não considerarás o carro como objecto de glorificação pessoal, nem o usarás como local de pecado".
Há, contudo, aspectos que ainda não são pacíficos. Primeiro de tudo, muitas pessoas mais desconfiadas têm-se perguntado se estes Mandamentos também foram escritos pela "mão de Deus" em 2 tábuas ou se foi um bispo mais zeloso (recentemente atropelado numa passadeira do Estado do Vaticano ou coisa que tal) que terá reconhecido a importância "comercial" dos automobilistas e desatado a escrever dez frases mais moralistas sobre condução. A Igreja considera estas objecções como pura má vontade e "desprezo pelo Divino".
Por outro lado, alguns outros («uns hereges!», nas palavras do porta-voz do Vaticano) têm perguntado qual o interesse destes mandamentos quando há Códigos da Estrada em vigor?
Na verdade, e tomando como exemplos os acima transcritos, conduzir sob o efeito de álcool já é considerado crime em quase todos os países, a partir de uma determinada taxa de gramas por litro de sangue (que em Portugal, por exemplo, se cifra nos 1,2g/l), enquanto que o desrespeito pelos limites de velocidade conduz a contra-ordenações.
Caso diferente pode acontecer na análise do outro mandamento "Não considerarás o carro como objecto de glorificação pessoal, nem o usarás como local de pecado".
Há que decompor a referida disposição divino-legal em duas partes. Considerar o carro como objecto de glorificação pessoal parece condenar os adeptos do tunning às labaredas do Inferno - e é bem feito! No entanto, as modificações operadas no automóvel que não constem do livrete parecem já estar contempladas no Código da Estrada.
Quanto à segunda parte do referido preceito, "não usar o carro como local de pecado", podemos depreender que se apela a um conceito de meta-pecado. De facto (se o desrespeito pelos Mandamentos do Bom Motorista se terão de qualificar como desrespeito pelas leis de Deus, logo, pecado), a Igreja prescreve ser pecado usar o carro para o pecado, o que, bem visto, é simples parvoíce (para não dizer masturbação metal, porque pecado).
Numa visão geral, a Igreja parece entender que qualificar estas acções como "pecados" irá ter um efeito dissuasor sobre o crente/prevaricador.
Tendo em conta que o cometimento de um "pecado" não apresenta como consequência a condenação em uma multa ou coima, parece que os crentes não arrepiarão caminho na sua estrada de perdição (esta é a última, juro. Escrever metáforas não só cansa como é parvo).
Deste modo, estes Mandamentos do Bom Motorista parecem condenados a ficarem pelas boas intenções. E, como diz o povo de Deus, "de boas intenções está o...", hum... oh, bem!, caguem nisso.