Mensagem de Natal
Todos os anos, milhares de árvores são cortadas para, após breves enfeites, serem prontamente atiradas para o lixo. Não compre árvores de Natal.
Todos os anos, o estimado leitor compra presentes, apressadamente, sem verdadeiramente se preocupar, por dever de ofício, para oferecer a parentes que: a) não gostam de si; b) agradecem com o sorriso mais luminoso; c) desdenham de si, e do presente, qualquer que ele seja, assim que lhe viram costas, aproveitando o ensejo para se rirem de histórias, parcialmente inventadas, com o exclusivo intuito de humilhá-lo perante terceiros.
O que fazer com o dinheiro, então? Pode considerar enviá-lo para um organização humanitária que subsidie os países pobres, mas não é, definitivamente, uma boa ideia. "Toda a gente sabe" (porque é um mito urbano, e estes nunca falham) que 99% do dinheiro é consumido pela própria burocracia da organização, enquanto que 99% do sobrante 1% alimentam os pequenos grandes luxos da corrupção do Estado de destino. Sinceramente, quer gastar o seu dinheirinho, que tanto lhe custa a ganhar (ultimamente, já só tem 3 pausas para café, de manhã), para pagar a ponta de uma pata de lagosta na consoada de um ministro corrupto de um país qualquer, que já engorda com o tráfico de armas e diamantes? Pode argumentar que, ainda assim, 0,01% da sua ajuda chega ao destino, mas estudos comprovam (Quais estudos? Tenho ali o link e depois mando.) que mais de metade dos sacos de farinha atirados de avião em África não são da marca que agrada aos destinatários.
Entregar o dinheiro a uma organização solidária nacional é ainda menos sensato, pois, como se sabe, o país vive lindamente e a rede de apoio social faz com que qualquer sociedade nórdica pareça a Favela da Rocinha. Toda a massa que lhes der vai ser gasta a imprimir cartazes e pagar anúncios para pedir mais financiamento, num sistema autofágico absolutamente irracional.
Não gastar, poupando, está fora de questão, não só porque o sistema de reformas vai continuar sustentadíssimo, como ainda porque vai ajudar à engorda dos bancos e outros intermediários financeiros, que lhe pagam com meio por cento de juros reais, comissões abusivas, vendas cruzadas e, se se atrever a pedir um pouco mais, atiram-lhe com um "rendimento esperado de 20% sem capital garantido" e devolvem-lhe, após dois anos, uma miséria com a qual não consegue pagar um prato de tremoços. Aliás, a palavra "spread" é apenas parte de uma expressão mais ampla - "spread your legs" - que o banco tem vergonha de lhe endereçar.
O Incontinental propõe, por isso, que enderece todas as suas poupanças ao autor do blog, que cuidará de convertê-las em livros, CDs e charutos caríssimos, em rigorosíssimo proveito próprio. O que ganha com isto? A mais pura e refrescante verdade sobre o destino do seu dinheiro, que mais ninguém lhe transmite. A verdade! Num mundo de enganos, ilusões e falsas aparências, é, de facto a melhor (talvez a única) prenda que lhe poderiam dar.
