2.6.06

Saramago e o Plano Nacional de Leitura, a propósito...

...disto.

Gosta o Estado de mandar, e mais dizem alguns do que mandar de dispor, da cabeça dos outros e obrigá-los, porque de obrigação e não estímulo se trata, ainda que o neguem os mais apegados à imaculada versão oficial da realidade, a atingir a excelência, estranha coisa que não se sabe o que é quanto mais como lá chegar, a ir mais longe, e até, contra a vontade dos pequenos, que pequena também se sujeita a tais desmandos, a ler o que o Estado gosta, e vai de atirá-los ao poço escuro da leitura, que por mais sedutor que seja e nem sempre é dele querem sair os catraios, arranhando inutilmente as unhas na pedra lisa, a esta afixia se sujeitam os pequenos, rompendo a vista, logo o dom mais precioso, na leitura forçada de gente morta ou morta-viva ou a caminho disso, porque há autores que não se podem dar a ler a ninguém, muito menos a criancinhas, pois nestas o miolo indefeso não tem ainda a protecção da casmurrice, porque não usam pontos finais e fazem frases que são uma baralhação, valha-nos Deus, e querem, oh!... suprema vileza, que desta cruciante tortura cerebral participe um escritor, que de tudo fugiu em busca de paz, e ele participa, mas não quer, vai contrafeito, porém é livre.