12.6.06

Al-Zarkawi ainda não experimentou nenhuma das 72 virgens

Fonte segura do Incontinental no outro mundo informou, entre duas partidas de dominó com a Irmã Lúcia (um pouco batoteiras, já que esta deixou os óculos no carmelo de Coimbra), que al-Zarkawi, o mais recente dos mártires mediáticos, ainda não cheirou - por assim dizer - a primeira das setenta e duas virgens que lhe estariam destinadas. Porque tarda o consolo do hediondo senhor, cuja cara feia na Terra reclamaria uma compensação mais expedita no Céu? As razões da demora são várias.
Por um lado, o facto de só o torso e a cabeça do mártir terem chegado ao destino não ajuda. Quanto aos braços e pernas, por sua vez repartidos em peças separadas, encontram-se espalhados no deserto, com excepção de uma falangeta, que se aloja no aparelho digestivo de um pequeno animal roedor das areias, e uma rótula, que serve de apoio de copos na cantina da 7.ª Divisão de Infantaria Americana, estacionada na pequena localidade de Hibhib, perto de Bagdad.
Outro problema grave é o fornecimento. Na verdade, o "além" não é mais do que um espelho do "aquém". Ora, sendo este aquilo que sabemos, o seu reflexo não é melhor. Lá, como cá, nada é exactamente o que parece. As virgens não o são no seu estado mais puro. É Brísida Vaz - essa mesmo, a cantada por Gil Vicente - quem as fornece, aplicando-lhes os seus famosos virgos postiços, que ainda prepara artesanalmente. Nesta altura, a procura é muita, já que a alcoviteira manufactura os ditos selos para ambos os mundos. Questionada pelo Incontinental, através do seu contacto, sobre a encomenda de al-Zarkawi, disse-nos Brísida Vaz, no seu refrescante e inimitável estilo pessoal: "além das meninas criadas / pera os cónegos da Sé / terá o tolaço moiramo / de esperar - essa é que é! / Pois preparo com coidado / duzentas moças de fé / pera Crismar sem pecado / antes do mês acabado".