Berlusconi é o Cyrano de Fernando Rocha
Com o episódio coglioni, Berlusconi acabou por confirmar o rumor que circulava há muito entre a elite cultural europeia: o primeiro-ministro italiano é o verdadeiro autor da aclamada obra de Fernando Rocha, não passando este de um mero diseur dos trabalhos do primeiro. A suspeita havia já sido lançada por Agustina Bessa-Luís, que durante anos escreveu o argumento das mais de vinte cassetes de anedotas de "Canty - O Cantiflas Português". A escritora, que parece ter-se distinguido igualmente por outras criações menores, tinha afirmado que aquele Fernando Rocha que frequentava os saraus de poesia do Porto não tinha estaleca para "compor a fina tessitura de uma personagem do calibre da Rosa Peixeira ou do patusco Tibúrcio, cujo travejamento foi bebido nos clássicos". A frase causou algum impacto, na altura, tendo Fernando Rocha saído a correr do Majestic, sem dizer uma palavra e socando um paparazzo da revista "Ler".
Quem se apercebeu da relação entre o irreverente político italiano e o artista português foi José Saramago, que escreveu o guião de Marco para o primeiro Big Brother. Há muitos anos, ainda Rocha era pouco conhecido, ensaiava o bardo secretamente numa recatada villa italiana quando Saramago o surpreendeu treinando a dobra certa da língua para cada palavra que exprime um órgão genital. Berlusconi, qual Cyrano, susurrava maviosamente "coglioni" e outras expressões de realce, moldando, emocionado, o seu delfim. O plano de Saramago para divulgar esta relação foi sabotado por Sousa Lara, admirador confesso de Fernando Rocha e seu principal mecenas, que desterrou o escritor para um calhau no meio do mar, onde este se viu reduzido a escrever muito e ganhar dinheiro em quantidades verdadeiramente pornográficas.
Tudo isto parece representar apenas a ponte de um gigantesco iceberg, cujos contornos ainda estamos a tentar perceber. Tentámos contactar Salman Rushdie, que teria sido o intermediário entre Fernando e Silvio, mas o barbudo senhor escusou-se a responder, argumentando ter um prazo apertado para acabar o guião da próxima série dos Maluquinhos do Riso. Igualmente infrutífera foi a tentativa de contactar o compositor português Emanuel Nunes, que se dedica agora exclusivamente a criar músicas para destinadas a ser executadas pelo agrupamento Il Divo - seres aparentemente humanos que cantam como se tivessem as entranhas constantemente varejadas por uma máquina de lavagem automóvel.