Cirurgia na hora
Depois da "empresa na hora" e da "licença na hora", o Governo sentiu-se confiante para avançar com uma nova medida. Após um suborno insignificante, uma fonte segura confidenciou ao Incontinental que o executivo prepara a "cirurgia na hora". Os funcionários públicos que marinavam nas bolsas de disponíveis serão colocados em pequenas bancas de beira de estrada, nas imediações dos hospitais, com um guarda-sol e usando avental. Cada um receberá então um kit composto de navalha (para a incisão), garrafa de cachaça anestesiante, agulha de crochet e linha de pesca. Para dúvidas de última hora, o dream team governamental garantiu, por cada duas bancas, um exemplar da popular série infantil "Era Uma Vez a Vida", que mostrava os linfócitos usando capacete e as plaquetas sorrindo na corrente sanguínea.
Esta medida parece estar inserida num plano mais vasto do Governo que visa afastar os doentes dos hospitais. Segundo o chefe de gabinete que se ocupa da questão, ouvido esta manhã, um estudo encomendado a uma consultora de nomeada concluiu que, excluindo os funcionários, mais de 80% das pessoas presentes nos hospitais se encontram doentes - números sem paralelo de um fenómeno que os entendidos designaram por "síndrome do hospital". Nas palavras do entrevistado, "embora se desconheça a causa de tal anomalia, parece claro que ela está relacionada com os hospitais, pelo que tudo se resolverá com o seu encerramento" - síntese aplaudida por todo o staff do gabinete em causa.
Como complemento de tão variadas e boas ideias, está já em preparação um serviço adicional, que se prevê vir a funcionar a partir das mesmas bancas, logo após a cirurgia. Chamar-se-á "aceitação da herança e partilha na hora".
Como complemento de tão variadas e boas ideias, está já em preparação um serviço adicional, que se prevê vir a funcionar a partir das mesmas bancas, logo após a cirurgia. Chamar-se-á "aceitação da herança e partilha na hora".