2.12.07

Amostras não representativas

Continua a ser publicada aquela inexplicável secção da revista do Sol sobre as famílias numerosas. Surpreende-me que, após tantas edições, continuem a colher amostras não representativas do fenómeno, insistindo na entrevistas a pessoas de classe média-alta e alta.
Não faltam famílias numerosas nos bairros pobres de todo o país, principalmente à volta de Lisboa e do Porto.
As vantagens seriam evidentes. Em vez de um texto chato e previsível

("Os Teixeira Vianna são uma família grande e com eles vive também, a toda a hora, a alegria. Ele, administrador de empresas, sempre quis ter muitos filhos. Ela teve a coragem de ficar em casa a tê-los. Moram num palacete de três andares na Lapa, com trepadeiras e um jardim enorme, onde os 25 filhos e 90 netos podem correr sem risco de esbarrarem uns nos outros.")

poderiam apresentar algo muito mais interessante, como, por exemplo, isto:

("A Mena - ou "fanhosa", como é também conhecida - recebeu-nos no seu apartamento da Buraca, onde fomos logo saudados pelas 12 crianças filhas de 10 pais diferentes, a maior parte dos quais Mena afirma saber quem são. O mais velho tentou palmar-nos a carteira e o telemóvel, mas levou logo um bofardão naquela tromba que até andou de lado. Mena é uma típica mãe-galinha e não deixa ninguém fumar antes de perfazer cinco anos. A este grupo animado junta-se, por vezes, uma assistente social ou um par de agentes da polícia em visita, mas o momento mais aguardado é, sem dúvida, a tarde de Domingo, quando todos vão visitar os tios ao estabelecimento prisional de Pinheiro da Cruz.")