15.3.07

Parabéns, ó Lobo Antunes

e eu a lembrar-me do homem zarolho de quem falavam na escola que escrevia aos cantos, sem que naquela altura quisesse saber dele e na verdade sem saber coisa nenhuma
(ganhaste um prémio, Toninho)
e o velho que arrotava a história do zarolho depois de almoço, nas aulas quentes de Maio, e suava com as paredes no calor de Maio que parecia Agosto, o suor a pingar-lhe dos picos da barba mal feita
(ganhaste um prémio, Toninho)
um farrapo de vento pela janela a lamber a saia da rapariga da ponta, que levanta levanta quem é que se lembra de trazer uma saia assim e o outro andrajoso ainda a falar do zarolho e eu a pensar que me deitava no chão a espreitar se pudesse
(ganhaste um prémio, Toninho)
a corrida até casa, a mana de trombas, a mãe de gatas a esfregar, parecia que estava sempre de gatas, mesmo quando não estava, a cara enfiada no chão
(ganhaste um prémio, Toninho)
desde então que não me dou bem com zarolhos nem gatos, não que haja relação, estas coisas são mesmo assim nem tudo está relacionado, imaginem o que seria um gato zarolho
(ganhaste um prémio, Toninho)
até que hoje veio o prémio do zarolho, que já não é um zarolho qualquer e pensando bem fui um idiota, porque não tenho nada a dizer dos zarolhos
(ganhaste um prémio, Toninho)
gosto deles e se calhar sou eu que tenho um olho a mais.