29.12.05

O sorriso

Um bom político sorri sempre para o fotógrafo. Sempre.

Dois ilustradores de encher o olho

Gonçalo Viana, português, ilustrador de algumas das ideias de Steven D. Levitt e Stephen J. Dubner, entre muitas outras. Dele aqui fica uma ilustração sobre métodos de contracepção, divulgada com simpática autorização do próprio, para abrir o apetite. Atirem-se às restantes, seguindo os links.




Jody Hewgill, canadiana, ilustradora com "I" grande, muito grande.
(com o devido agradecimento à C., por me ter apresentado a senhora)

De Mike Tyson para baixo, ao som do Biography Channel

O Biography Channel devia receber o "Prémio OMO" pelas lavagens mais imaculadas dos seus queridos biografados.
Misantropos irremediáveis, actores medianos com carreiras malogradas na tela mas ascendentes na insolvência, artistas alcoólicos, noctívagos violentos, políticos carreiristas e, em geral, pessoas definitivamente intratáveis são descritos, pelos embevecidos locutores, como sujeitos "exuberantes", "determinados", "belos", correspondendo todos, de uma forma geral, à síntese perfeita entre um lote de Prémios Nobel (de todas as categorias) e um(a) top model internacional.
Em face disto, fiquei entusiasmadíssimo quando, há uns tempos, anunciaram o relato biográfico de Mike Tyson, esse lírio delicado e encantador de cuja boca perfeitamente delineada saíram frases como "[He] called me a ‘rapist’ and a ‘recluse.’ I’m not a recluse." e, sobre Lennox Lewis, "I want to rip out his heart and feed it to him. I want to kill people. I want to rip their stomachs out and eat their children.". Para além do episódio memorável em que arrancou parte da orelha de Evander Holyfield com os dentes, a sua carreira de criatura acabadamente odiosa incluiu outros marcos menos mediáticos, como alegres passagens pelo espancamento e violação de mulheres, jovial pancadaria em jornalistas, fotógrafos, transeuntes e toda e qualquer pessoa que, por azar, lhe passasse à frente quando começava a salivar. Pelo caminho, passou uns tempos engaiolado. O muito dinheiro que ganhou foi desbaratado nas mais refinadas inconsciências ou desviado por parasitas, que não sabia controlar.
Este era o Mike Tyson que eu conhecia, não o querubim desdentado que o Biography Channel me apresentou. Afinal, tratava-se apenas de um menino da rua, de sorriso maroto mas indissolúvel inocência, que foi constantamente manipulado por tudo e por todos: mulheres, agentes, supostos amigos, tribunais, o "sistema", mamíferos em geral e Don King. Sim, houve ali algumas fases com uma ténue propensão a violência, mas compreendem-se, já que a tensão decorrente dos abusos que sofria dos outros tinha de escapar de alguma forma. Assim foi menos mal. Só no episódio de Holyfield perpassou uma sombrinha muito ligeira de discurso de responsabilização, mas logo se extinguiu. Aliás, a ideia de responsabilidade é tema de risota nas conversas junto à máquina do café dos estúdios do Biography Channel.
Fiquei viciado no canal. Mal posso esperar por ver a biografia daquele senhor de bigode que sonhava com um mundo melhor e tudo fez por mudá-lo, começando na Polónia em 1939, ou a daquele filantropo que quis reformar a agricultura do Camboja, passando por todos aqueles benfeitores que diariamente vendem armas para que os pobres africanos se possam defender uns dos outros.

26.12.05

Desilusões

Ontem liguei a televisão e vi o senhor Presidente do Tribunal Constitucional mergulhando a mão numa jarra escura e tirando de lá uns papéis. Sorteio... Peguei no meu talão do euromilhões, amaldiçoando o erro de casting que teria levado à substituição da Marisa Cruz, e preparei-me para receber o refrescante duche da fortuna. Qual não é o meu espanto quando me apercebo tratar-se do sorteio da posição dos candidatos a PR no boletim de voto.
Bah...
Licenciatura, anos de trabalho, ascensão lenta na carreira, ingresso no Tribunal Constitucional, acórdãos para relatar, urdidura de votos de vencido, investidura na posição de Presidente do mais alto tribunal do país, para acabar a tirar papéis de um jarrão, sujeito talvez a entalar os dedos em directo na televisão e assim causar uma excepcional interrupção na "1.ª Companhia".
A vantagem é evidente: humanizar os titulares de altos cargos do poder tornando públicos actos corriqueiros dos mesmos. Aconselho que se estenda a medida como tónico revigorante contra a crise da vida política e o afastamento entre políticos e cidadãos.
Nada me faria mais feliz do que mostrar um sorriso sincero, repleto de migalhas de pastéis de nata, a um afável deputado que me servisse numa pastelaria, descompor um secretário de estado por aplicar graxa castanha nos meus sapatos pretos ou insistir com um ministro para não se esquecer de tapar a fossa após desentupi-la.
Se este blog cedesse à tentação do humor fácil, pediria desculpa àqueles profissionais por, ainda que escudado pela ficção, ter ousado compará-los aos políticos. Como não cedo a pressões grosseiras, limito-me a imaginar que todos levam, no final, com uma tarte na cara.

A imagem do chefe

Diz-se, com alguma razão, que metade da capacidade de chefia vem de uma boa gestão de imagem. Mas por que raio alguém terá barrado o nosso Chefe de Governo com base, para a mensagem de Natal, de tal maneira que fiquei sem saber se era o original ou uma cópia emprestada pelo Museu da Madame Tussauds?

23.12.05

Tributo Justo a Augusto, o dito, num pálido arremedo da linguagem do próprio

Passeava eu um destes dias os pés cansados pelas calçadas gastas de uma terra ignota onde um dia a viúva de Hermenegildo Mendes mandou erguer um mosteiro e eis que dou de caras com a singular figura de Augusto Justo, generoso escriba de um magnífico expositor de saber transversal. De súbito emocionado, pois que o conheci antes mesmo de ele se volver em verdadeiro Jean Baudrillard acidentalmente caído no caldeirão da poção mágica de Gabriel Alves, estendi-lhe a mão calosa, reprimindo uma lágrima. Igual a si mesmo, Augusto, o Justo, não perdeu tempo com escusados cumprimentos e prontamente me atirou, à laia de intróito, uma tirada de primeira água, com o desassombro de um Paul de Man dissecando John Keats: "já viste que trazes a braguilha aberta, pá?". Logo me verguei perante a espantosa verve deste Homem, que, sem apegos tolos ao incomensurável estatuto intelectual que a comunidade da virtual pangeia filosófica lhe reconhece e em cada momento fermenta, desce do seu pedestal e se digna comentar o trivial desleixo que os meus habituais ademanes desviam da atenção do vulgo. Esmagado perante tão singela manifestação de abnegação, emudeci e não fui capaz de dizer-lhe que me sentia um seu discípulo. Ousei até sonhar que poderíamos formar uma dupla criativa, quais Gilles Deleuze e Félix Guattari - ideal tolice justificada pela verdura dos anos: não sonhou um dia o Fernando Rocha ser Jerry Seinfeld ou o saci-pererê ter duas pernas? - mas ficaria feliz se apenas me deixasse barrar-lhe uma torrada, ainda que a não comesse ou a regurgitasse.
Augusto Justo depositou em minhas mãos um óbolo prenhe de significados - uma moeda de cinquenta cêntimos - que acompanhou, na sua habitual e densa linguagem cifrada, cujo sentido oculta atrás de cem véus diáfanos, o seguinte dito: "toma lá, para tomares um galão".
Ainda hoje tal sentença faz vibrar o nervo auditivo deste apóstolo. Até a minha relação segura com os derivados mistos de lactose e cafeína se dissolveu no preparado orginal daquela frase, que contemplo idealmente qual gravura de Julia Kristeva em trajes menores, como a que penduro à cabeceira da cama.
Hoje, sorvo um galão em sua homeagem e desejo-lhe um Natal Feliz e um 2006 pleno de pós-modernismo, tirando o chapéu ao legado da prosa que verte em jorros épicos e intermináveis, como os do pescoço da Hidra de Lerna, na arremetida final de Hércules.

20.12.05

Natal

Natal e boas intenções andam de mãos dadas, não andam?

18.12.05

Macacos, dinheiro e nós

Tão giros que eles somos.

Brinquedos

Infelizmente, passei a infância sem brinquedos destes.